segunda-feira, 25 de junho de 2018

A classificação é portuguesa, mas o brio é iraniano

Imagem de torcedor iraniano com "lágrima verde" já é uma das mais vistas no mundo (Divulgação FIFA)

   Portugal e Irã fizeram um jogo histórico para definir o grupo B da Copa. Se Portugal teve praticamente 70% de posse de bola, um gol e um pênalti a favor, não criou praticamente mais nada ao longo da partida. E ainda teve sorte de Enrique Cáceres ser abatido pelo gene da covardia por não ter coragem de expulsar o craque lusitano após acertar um soco em zagueiro iraniano. Com o 1x1 os portugueses se classificaram. O desespero dos iranianos, inconformados com a desclassificação, no entanto, foi o que mais chamou atenção. 
      Logo aos dois minutos, a primeira chance portuguesa. Cristiano Ronaldo avançou pela esquerda e bateu forte, para defesa de Beiranvand. O arqueiro iraniano, entretanto, protagonizou três lances bizarros em sequência. Primeiro, furou em bola em dois cruzamentos portugueses. Depois cobrou forte o zagueiro Housseini, que saiu junto com ele em uma bola. Não satisfeito, deu um safanão no companheiro de equipe. Outros jogadores afastaram o goleiro.
      Embora Portugal criasse boas jogadas, não concluía a gol. A melhor chance da partida havia sido do Irâ. Em cobrança de falta aos 44 minutos, Ezatolahi cabeceou livre, mas a bola saiu fraca e Rui Patrício pegou. Um minuto depois, o castigo. Quaresma recebeu de Adrien Silva  e de três dedos, na entrada da área, acertou um chute no ângulo, abrindo o marcador. 
      O segundo tempo começou com Portugal disposto a matar o jogo. Aos 4 minutos, polêmica: Cristiano Ronaldo foi derrubado por Ezatohali dentro da área, mas o árbitro mandou seguir. Alertado pelo VAR, Enrique Cáceres revisou o lance e marcou o pênalti. Os iranianos "buzinavam" no ouvido do artilheiro luso impropérios antes da cobrança. E parece ter dado resultado: CR7 bateu forte no canto direito, mas Beiranvand  voou para pegar. 
      Com o passar do tempo, os portugueses optaram por tocar mais a bola e acabaram atraindo os iranianos, que passaram a pressionar. Até que com a proximidade do fim do jogo (que passou a ter muitas faltas) aconteceu o imprevisível: Cristiano Ronaldo acertou Pouraliganji com um soco. O atacante foi parar no VAR. E após revisar o lance, Enrique Cáceres deu apenas o amarelo - mas foi o suficiente para fazer CR7 sumir do jogo. 
      Aos 43 minutos, o lance emblemático: em disputa de bola na área, Cedric, com os braços estendidos, impede a passagem da bola. O árbitro não marcou nada, mas quando a bola parou os iranianos reclamaram muito e o VAR alertou para revisão do lance. Cáceres marcou o pênalti. Ansarifard bateu e empatou.
       E aos 49 minutos ocorreu o lance que desesperou os iranianos. A bola foi alçada para a área portuguesa e sobrou para Taremi. Sozinho, o atacante chutou para fora, com Rui Patrício já batido. 
      Ainda sobrou tempo para reclamações iranianas. Isso porque o árbitro deu seis minutos de acréscimo, mas a partida ficou paralisada por quatro minutos no pênalti iraniano para a conferência via VAR. O problema é que o árbitro paraguaio não compensou o tempo - e quando o relógio chegou aos 51 minutos, trilou o apito.
      As cenas que vieram a seguir foram dramáticas. Torcedores iranianos nas arquibancadas em prantos - homens, mulheres e crianças. Dentro de campos, os jogadores não conseguiam deixar o campo. Estavam em choro convulsivo. Sabiam que a oportunidade ficara diante deles e haviam desperdiçado. 
      Nessas horas fica a lembrança do escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor da obra "Futebol ao Sol e à Sombra": o futebol é o esporte mais justo entre os injustos e injusto dentre os justos, pois permite ao inferior sonhar e ao pior ganhar. 

IRÃ: Beiranvand; Ramin, Hosseini, Pouraliganji e Haji Safi (Mohammadi); Ezatolahi (Ansarifard), Jahanbakhsh (Ghoddos), Mehdi Taremi, Omid e Amiri; Sardar. Técnico: Carlos Queiroz

PORTUGAL: Rui Patrício; Cédric, Pepe, Fonte e Raphael Guerreiro; William, Adrien, Quaresma (Bernardo Silva) e João Mário; Cristiano Ronaldo e André Silva (João Moutinho). Técnico: Fernando Santos.

Árbitro: Enrique Cáceres, tendo como assistentes: Eduardo Cardozo e Juan Zorrilla (todos do Paraguai).


Nenhum comentário:

Postar um comentário