domingo, 21 de agosto de 2016

Terminou... hora de analisar



<p><strong>MATANDO A SAUDADE</strong></p>

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<p>Faltam poucos minutos para a cerimônia de encerramento começar! Enquanto isso, que tal reviver os momentos da cerimônia de abertura? <a href="https://interactive.rio2016.com/pt/" target="_blank">Clique aqui!</a></p>
      Sabe aquela sensação meio ruim, de saudade? Pois é... meus últimos dias foram acordando cedo e dormindo tarde para acompanhar a Olimpíada. Talvez seja a última da minha existência, talvez só mais uma. Mas por ser no Brasil era especial. Não iria precisar levantar às 4h para acompanhar o judô (um dos poucos esportes que pratiquei e que o joelho não me deixou seguir), às 6h para ver vôlei ou futebol. Isso sem falar no tempinho que vou tendo graças a uma lesão chata denominada Síndrome de Túnel do Carpo - já operei o lado direito e em breve opero o esquerdo. Os dedinhos aqui vão se exercitando, devagar e sempre, para poder retornar o quanto antes ao trabalho (já perdi duas oportunidades de emprego, não vou perder a terceira). Mas o que interessa não sou eu. Somos nós.
      A Rio 2016 pode ser analisada sobre diferentes aspectos. Do ponto de vista de moral elevada, ótimo. O Brasil nunca foi tão bem. Sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze. Ao todo, 19 subas ao pódio. Nunca antes na história desse país (não, não vou falar em política até porque agora vem overdose de campanha eleitoral) fomos tão bem. Mas não é isso. Definitivamente não.
      Na abertura, mostramos ao mundo as condições de montar um espetáculo cultural de alto nível, sem supershows, com uma simplicidade cativante. Acabamos "bem na foto" em todo planeta. Com raras exceções de jornalistas ranzinzas (meus colegas estrangeiros são fogo), o comentário foi positivo. Claro, também tivemos problemas. Afinal, faltar comida à disposição do público nas arenas e tampas de vaso sanitário para os atletas na Vila Olímpica é dose para mamute. Entretanto, aqui não teve nenhum ex-padre doido invadindo arenas para impedir o ouro de atletas. Muito menos atentado terrorista, o temor de todos. Teve confusão sim, mas incrivelmente causada por beberrões norte-americanos travestidos de nadadores - e que vão pagar por essa vergonha por muito tempo. Certa vez li em um livro uma frase que me marcou: os americanos admitem até presidentes com relações extraconjugais, mas não um mentiroso. Isso era uma referência a Bill Clinton. E quem entrou logo depois dele? George W. Bush - muitos analistas creem que a mentira de Clinton levou à eleição do presidente mais "Zé Buscapé" da terra do Tio Sam. 
      Tivemos façanhas. Entre os vitoriosos, Róbson Conceição no boxe,Alison/Bruno Schmidt no vôlei de praia  e Tiago Braz são destaques. Conceição era um ilustre desconhecido para a maioria dos brasileiros. Agora é tratado com honras de ACM na Bahia. Os dois do vôlei estiveram para perder três de suas partidas. Tiraram forças sabe-se lá de onde, viraram e agora entraram para o olimpo dos campeões. Braz conquistou o ouro no salto com vara, quebrou o recorde olímpico e sepultou Fabiana Murer no gosto dos brasileiros pelo esporte. Venceu medos, bancou do próprio bolso o treinamento na Itália, ficou longe de tudo e de todos. E ganhou o ouro.
      Tivemos torcida. Favoritos ou não, não faltou apoio. Claro, teve o caso da Seleção Brasileira masculina, que irritou todos naqueles 0x0 insuportáveis da primeira fase. Mas que ganhou um ouro com justiça. Sempre com apoio. Da mesma forma a Seleção feminina, as seleções de vôlei e basquete, os atletas do vôlei de praia, da natação, do atletismo, do judô, do taekwondo. Sempre apoiados. Aliás, deu tempo até para apoiar outros: Michael Phelps e Usain Bolt. Ambos demonstraram um carinho com o povo brasileiro pelo apoio recebido que só o espírito olímpico e de vencedores é capaz de fazer. 
      Tivemos mitos - Phelps, Bolt, Serginho (nosso líbero de ouro), Tivemos uma chama olímpica biosustentável e subdividida entre o Estádio Olímpico e a Candelária. Claro, tivemos fracassos. Fabiana Murer, a seleção de vôlei feminino, a seleção de basquete masculino e feminino. Mas tivemos também gente e equipes para acreditar: handebol (masculino e feminino), polo aquático masculino, os atletas do levantamento de peso e da esgrima, que beliscaram medalhas. Sem falar na ginástica, onde tivemos, também a volta por cima de Diego Hypólito, a descoberta de Artur Nory, o desempenho de Flávia Saraiva. 
      Tivemos algumas injustiças: a Seleção feminina merecia uma medalha. Caio Bonfim, na marcha atlética de 20 km, também merecia. Mariana Silva, no judô, idem. 
      Mas isso é parte da vida. O esporte é assim. Os vencedores entram para a história. Os derrotados a história esquece. Contudo, os personagens significativos, os lutadores, os desbravadores, os ilustres desconhecidos que viveram sua fama momentânea pelo que fizeram dentro da pista, do tatame, da quadra, da arena, esses lapidam credibilidade junto ao público para ganharem confiança, torcida, esperança. O Brasil é um país de gente que acredita, que torce muito para as coisas darem certo.
      Agora é Tóquio 2020. Lá vou eu voltar a acordar de madrugada para acompanhar as modalidades. Até lá vão surgir outros Isaquias Queiroz, outros Felipe Wu, outros Róbson Conceição, outros Maicon Siqueira. Talvez não tenhamos mais Marta, Bernardinho, Serginho. 
      Sei que foram 17 dias muito especiais. Que valeram a pena. Para mostrar que o Brasil pode, também, dar certo. Agora é torcer para que nossos governantes ajam como líderes, que nossas instituições sejam capitãs de mudanças significativas no comportamento social da nação. E que cada um de nós faça sua parte atuando como precursores de uma bandeira una: a da democracia dentro dos conceitos de igualdade e justiça - o conceito de democracia não anda sozinho.
      Até breve!

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