domingo, 21 de agosto de 2016

O ouro mais especial de todos é graças... à Argentina

Brasil bate Itália e entra para o seleto grupo de tricampeões Olímpicos no vôlei

      Esqueça o placar. Os 3x0 contra a Itália (25/22, 28/26 e 26/24) foram importantes, claro. O Brasil jogou muito. Mas muito. Mas muito mesmo. Era uma seleção, tecnicamente, inferior. Jogava em casa, com apoio da torcida, dirão muitos. Isso não evitou derrotas para a própria Itália e para os Estados Unidos na primeira fase. A faca foi ao pescoço dos jogadores na última partida da primeira fase. Se a equipe de Bernardinho perdesse para a França, estaríamos fora, na fase de grupos. Um fiasco, sem dúvida.
      Mas passamos.
      Até que veio o jogo contra a Argentina. E o panorama brasileiro começou a mudar. Muito mais pela atitude. A Argentina tem uma boa equipe e, até então, como a nossa seleção feminina, tinha a melhor campanha geral. Ficou pelo caminho. Principalmente pelo modo do Brasil. Para quem já jogou vôlei (e eu, com 1,70m, joguei nas equipes de colégios onde estudei porque passava bem e sacava relativamente bem) sabe: é preciso fechar o meio da quadra na hora de defender. E o Brasil, que até então tinha dificuldades em defender nesse ponto, começou a fazê-lo. Com perfeição. A bola dificilmente caía. E os argentinos ficaram atônitos. Assim como os russos na semifinal, atropelados por uma atuação brilhante.
      Os italianos não foram atropelados. Nosso ouro tem mais valor por isso. Eles caíram em pé. Jogaram muito, tanto quanto os brasileiros.
      Mas nós fomos melhores.
      Tivemos que superar desconfiança - não éramos favoritos, mesmo que a torcida quisesse. Conquistamos o terceiro ouro olímpico, em casa - coisa que só os norte-americanos conseguiram, em 1984. Tivemos dois titulares lesionados - e muito afetados: Lipe, o valente ponteiro e sacador, com dores lombares que quase o paralisaram na partida contra a Rússia, e Lucarelli, talvez nosso melhor jogador, afetado por um estiramento muscular que dói. Dói muito - pergunte a quem já teve. 
      Não ganhamos apenas a medalha de ouro dentro da quadra. Recobramos a competitividade. Restauramos nossa auto-estima. Vencemos todos os grandes adversários que apareceram diante de nós - quer dizer, quase todos... tenho os Estados Unidos entalados na garganta, assim como Bernardinho deve ter também. Só eles, que nos tiraram o ouro em Beijing - 2008, é que ainda nos devem alguma coisa.
      Agora, encerramos a olimpíada com a sensação de dever cumprido. Com um supertécnico chamado Bernardinho fazendo história, com sete medalhas olímpicas entre as seleções masculina e feminina. 
      Entramos para a história do vôlei. Graças a essa geração de guerreiros que ultrapassa a dor e o comodismo.

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