segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Não te mixa guri! O valor é de ouro!


      Confesso que fiquei preocupado ao acompanhar a declaração do bageense Roberto Alcalde Rodriguez após a final dos 100 metros peito, classe SB5, na final da paralimpíada Rio 2016.. Em entrevista ao canal SPORTV o nadador fez um desabafo misturado com desânimo e indignação. Claro, existe algo na imprensa que contraria o bom senso: entrevistar alguém logo após um resultado que ficou abaixo do esperado pelo entrevistado é uma bomba-relógio. Acontece no futebol quando alguém é expulso (vocês notaram que palavrões e gritos são os itens mais comuns nesse tipo de situação? Mas é Ó-B-V-I-O). E Alcalde desabafou. Disse que se atrapalhou na parte técnica, que tinha condições de ir melhor. Não escondeu a frustração.
      Desconte-se a sensação ruim de não conseguir uma medalha. Alcalde já foi campeão mundial na mesma prova, em 2011. O atleta em alto nível persegue como um puma esfomeado em busca da presa o melhor resultado. Ele vai querer sempre o pódio. E qualquer resultado abaixo disso vai chatear alguém que sacrifica a vida na caça do alto rendimento, do melhor resultado, do centésimo a mais. E esse é o lado que entendo. É o lado humano. Dói sim perder. E como Alcalde é um grande atleta, cabe a mim entender essa dor.
      Isso ficou evidente na prova dos 200 metros medley hoje. Não é a prova favorita do bageense. Creio eu que ele ainda buscava respostas porque o desempenho na eliminatória de ontem havia sido satisfatório. Era o segundo melhor tempo. O "ontem" pode ter influência no "hoje" - embora o nado de peito seja completamente diferente do medley, que mistura, além do peito, o livre, o borboleta e o nado de costas. Uma maratona. O décimo lugar na eliminatória pode ter outro sabor. Os 100 metros peito vão virar motivação para o bageense.
      Com a cabeça mais fria, Alcalde sabe que no momento em que saiu da piscina do Parque Olímpico um novo ciclo olímpico (perdoem a redundância, mas é esse o termo real) inicia. Agora é buscar resultados para os mundiais, participar do Parapan em 2019 e correr atrás de índice para a Paralimpíada de Tóquio em 2020. O bageense sabe que vai sofrer com o esforço, as contusões, a dor (que, segundo Oscar Schmidt, maior jogador de basquete que vi, faz parte do uniforme do atleta). Vai privar-se da companhia dos amigos, vai cansar, vai ter que correr atrás do patrocínio, treinar muito. 
      E, no final, vai saber que tudo isso vale a pena. Alcalde levou consigo uma torcida grande. Afinal, sua família mora aqui. O nadador reveza-se entre São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. E vai levar o carinho de Bagé com ele. Vai levar o sentimento de que é um desbravador, um lutador, que venceu no esporte e se tornou um cidadão do mundo. O resultado pode ter ficado abaixo do esperado para o atleta. Mas para o torcedor, o fato de representar o Brasil (já pensou representar o seu país? Puxa, isso não tem preço!) e honrar a Bagé varonil é um grande louro para seguir atrás da sua meta. 

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