domingo, 18 de setembro de 2016

Não peça desculpas Fred!

Brasil cai diante do Egito e é quarto no voleibol sentado

      Tudo bem que a perda da medalha de bronze para o Egito (derrota por 3 sets a 2) deixou desanimada a equipe. Afinal, a competição é no quintal de casa, diante da torcida. Mas os desabafos do técnico da seleção masculina de vôlei sentado, Fernando Guimarães, e do oposto Fred, maior pontuador da competição, me deixaram com sentimento de culpa. E olha que não faltou apoio do público durante toda a partida.
      Acompanhem as parciais para vocês terem ideia do quão equilibrado foi o jogo: 26/28, 31/29, 25/19, 22/25 e 15/1. A partida durou mais de duas horas. Na semifinal, o time brasileiro havia perdido para o Irã, que disputa a final dentro de instantes com Belarus. 
      Só que, encerrada a partida, as equipes de TV foram no técnico. E ele desandou a elencar uma série de problemas da seleção. Entre eles que "tudo o que treinamos, eles (atletas) não fizeram". Aquilo doeu. O alto rendimento, claro, exige profissionalismo ao extremo. Mas não ficou legal esse desabafo. Parece que a culpa era dos jogadores. Mais tarde, com a cabeça mais fria, tenho certeza que o treinador vai observar detalhes importante. Entre eles: foi a melhor campanha do time masculino em uma paralimpíada. 
      O oposto Fred, o melhor jogador da equipe, não deixou por menos. Colocou para si toda a "culpa" da derrota. "Eu poderia ter jogado mais. Eu não assumi a responsabilidade. Assumo minha culpa", declarou o atleta à imprensa. Assim como eu, o repórter não escondeu a perplexidade. E insistiu, dizendo que o Brasil teve a melhor campanha, um desempenho acima do esperado. E Fred disparou. "Queríamos uma medalha. Ela não veio. Não há lado bom".
      Por isso é que especialistas em psicologia dizem que cabeça quente e euforia não são boas para ninguém. E não são mesmo, a vida ensina. O vôlei sentado levou um público gigantesco ao Riocentro. A modalidade foi adotada pela torcida. Não só isso. Aqui em Bagé mesmo já há um zun-zun-zun de que é possível organizar equipes de pessoas com deficiência para praticar a modalidade - que pode ser praticada por amputados ou paralisados cerebrais.
      E como o objetivo não foi atingido?
      A modalidade virou vitrine. A seleção feminina conquistou um bronze histórico. Como a quadra comum pode ser adaptada, não fica difícil montar uma estrutura para treinamento e partidas. O público entende a regra porque já é acostumado com o voleibol. A única diferença é que os atletas, pela dificuldade de mobilidade, podem tocar na rede. 
      A frustração e o desânimo são entendíveis. A derrota dói, seja ela no trabalho, seja no esporte, seja em casa. Só não é motivo para jogar tudo para o alto e dizer "putz, não serviu para nada". Serviu sim. Para chamar atenção do que uma pessoa com deficiência é capaz de fazer. De que com boa vontade e disposição pode-se colocar pessoas com deficiência em um patamar esportivo elevado. De que os governos podem investir em programas de capacitação de professores de educação física. De que é possível proporcionar estruturas para incluir pessoas com deficiência no esporte, talvez a melhor e mais fácil ferramenta para fazer isso. De que os legisladores - em nível municipal, estadual e federal - podem criar condições para facilitar condições para patrocinar eventos e infraestrutura.
      Não peça desculpas Fred! Vocês fizeram o vôlei sentado valer a pena. E despertaram a reflexão. A raiva vai passar. E vocês serão modelo para um novo patamar do esporte. 

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