domingo, 15 de julho de 2018

O melhor e o pior da Copa - o balanço geral vai durar até 2022



      A Copa acabou. Para quem gosta de futebol, uma pena. E nessa hora existe o momento da estatística. Os números são frios, é bem verdade. Então vamos analisar por outro lado, da forma que o torcedor mais gosta: o que foi bom e ruim, o positivo e o negativo. Claro, a análise é sujeita a contradições e opiniões. Mas em um apanhado geral podemos afirmar que a Copa da Rússia foi muito boa. Apesar de exceções - que na maioria das vezes ou foram fatores externos ou decepções, não propriamente algo ruim para a imagem da competição.
Vamos ao "top 10" dos melhores:
Divulgação FIFA
1) Nível técnico - O mundial da Rússia apresentou padrões de jogo entre as seleções. Embora muitos fizessem as tradicionais "linhas de quatro" ou até "linhas de cinco" (caso da campeã França) na defesa, os ataques predominaram. Tanto que a Copa assinalou 169 gols em 64 jogos, numa média de 2,64. Embora o índice seja o sétimo pior da história, há partidas que encantaram o público pela disputa. Entre os melhores estão Portugal 3x3 Espanha, Croácia 3x0 Argentina, Argentina 2x1 Nigéria, Colômbia 3x0 Polônia, Colômbia 1x0 Senegal, Brasil 1x2 Bélgica, França 4x3 Argentina, Rússia 2x2 Croácia, Croácia 2x1 Inglaterra e, claro, a final França 4x2 Croácia. Notem que a Croácia está na maioria dos "jogões" da Copa.

2) Árbitro de vídeo: a ideia precisa ser aperfeiçoada. Embora os erros de arbitragem diminuíssem consideravelmente, alguma demora nas decisões (e a contrapartida negativa no tempo de acréscimo de jogo ao final do primeiro e segundo tempos) ainda causa confusão. Mas o grande número de pênaltis marcados (28 ao todo, alguns sem a necessidade do VAR, sigla em inglês) sinalizam a busca pela justiça. E o público aprovou a iniciativa - que agora será vista na Copa do Brasil e na Libertadores. 


3) Menos número de expulsões: o número é surpreendente. Apesar de muitas faltas e de até alguma impunidade por parte dos árbitros, foi uma Copa leal. Apenas quatro jogadores foram expulsos. E, destes, dois foram postos para rua por meterem a mão na bola (caso de Sanchèz, da Colômbia, contra o Japão) e por serem o último homem da defesa em clara e manifesta situação de gol (caso de Lang, da Suíça, contra a Suécia).

4) A surpreendente Croácia: não é fácil para um país de 4 milhões de habitantes gerar tão bons jogadores. Assim como o Uruguai na década de 30, 40 e 50, o país de Modric, Rakitic, Rebic e Mandzukic conseguiu impor um ritmo de jogo praticamente igual durante todo o mundial. Zlatko Dalic arrumou uma equipe forte, que não desistia da partida até o apito final. E quando tentou mudar essa característica (contra a Rússia), quase se deu mal - talvez a partida que, se perdesse, não seria uma injustiça. Mereceu chegar à final e poderia ter alçado voo mais longo se seus craques desequilibrassem na decisão, o que não aconteceu.

5) A coroação de Mbappé - ele chegou à Rússia como esperança francesa. E foi decisivo. Prendeu a bola, catimbou, arrancou, driblou, atraiu a marcação. Para completar, marcou quatro gols e um deles na final contra a Croácia. Kyllian Mbappé é o segundo jogador mais jovem titular a ser campeão do mundo. E merece. Foi escolhido melhor jogador jovem da Copa. Mas a atuação contra a Argentina, quando marcou dois gols e sofreu o pênalti convertido por Griezmann, marcou a força francesa.
Divulgação FIFA

6) A presença das mulheres iranianas - proibidas de torcerem nos estádios de seu país, as iranianas não esmoreceram. Compareceram à Rússia e participaram da festa, marcando seus rostos, sempre mostrados pelas câmeras de TV. A Copa é um evento inclusivo. E o mundo viu não apenas a beleza das mulheres de um dos países mais fechados do planeta, mas a luta para assistir a um esporte que amam.
Divulgação FIFA


7) David Vida - se o pai foi um dos melhores zagueiros da Copa, o mascote é o filho. David invadia o campo tão logo os jogos da Croácia terminavam. Ia de colo em colo, celebrando com os jogadores croatas e, claro, recebendo toda a atenção do papai coruja.
Russia v Croatia: Quarter Final - 2018 FIFA World Cup Russia
Divulgação FIFA

8) Apenas um 0x0 - França e Dinamarca, com equipes reservas e com arbitragem brasileira de Sandro Meira Ricci, fizeram a única partida sem gols da Copa. Não aconteciam tão poucos 0x0 desde o mundial da Suécia, em 1958. E público quer gols. 

9) A Celeste e o Senegal - o Uruguai conquistou grande parte de torcedores no Brasil durante a Copa. Com um futebol de pegada, equilibrado entre o meio-campo e defesa, goleou os donos da casa na primeira fase e despachou Cristiano Ronaldo e companhia nas oitavas-de-final. E até agora o mundo futebolístico pergunta: se Cavani tivesse atuado contra a França (se contundiu na panturrilha contra Portugal), o resultado teria sido 2x0 para os campeões do mundo? Já os senegaleses foram a melhor seleção do continente africano no mundial. Jogaram bem, bateram a Polônia, poderiam ter vencido o Japão e, na partida contra a Colômbia, pagaram pela indolência em campo. Perderam por apenas 1x0 e em um critério meio maluco (número de cartões amarelos) ficaram fora da Copa.

10) A Copa dos centroavantes - sem essa de "falso 9". As grandes seleções do mundial tinham um clássico "fazedor de gols". Kane acabou como artilheiro (seis gols), mas houve Lukaku, Mandzukic, Diego Costa, Cavani, Agüero, Cristiano Ronaldo, Toivonen, Falcão Garcia. As exceções foram o francês Giroud e o brasileiro Gabriel Jesus, que não estufaram as redes. Mas no caso de Giroud, nem foi preciso. 

E agora os "10 menos" da Copa:

1) Casos de assédio - Vídeos de brasileiros, argentinos (sim, eles também, só que sem tanta repercussão) e ataques de russos a brasileiras (incluindo jornalistas) foram um dos fatos negativos da Copa. Isso nem de longe é brincadeira. É falta de respeito. E ainda mais que as pessoas que frequentam uma Copa tem, no mínimo, uma condição financeira (e, supostamente, uma educação) melhor. 

2) Alemanha - nem de longe os campeões de 2014 lembraram a equipe que empilhou gols em cima do Brasil e bateu a Argentina na final daquela Copa com merecimento. Com um time travado, sem criatividade, marcando apenas dois gols (e escapando por um erro de arbitragem gravíssimo a seu favor no jogo contra a Suécia) e confiando demais no seu taco, despediram-se do mundial levando um baile da Coréia do Sul - já tendo se afogado na tequila mexicana na estreia. Um fiasco.

3) Argentina - não há Messi que salve um arremedo de time. E era isso a Argentina de Jorge Sampaoli em campo. Justificou o temor dos torcedores argentinos já durante as eliminatórias - onde quase ficou fora. Com Mascherano perdendo divididas e errando passes, com uma zaga falhando em bolas aéreas e rasteiras, com falta de cobertura nas laterais, é possível afirmar: ter ido às oitavas-de-final foi muito para os argentinos.
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4) Arbitragem - se o VAR foi positivo, a decisão humana não seguiu o mesmo nível. Os árbitros, em alguns momentos, deixaram a violência tomar conta do jogo. Faltou maior advertência com cartões amarelos em lances onde os atletas iam apenas no corpo dos adversários para barrar as jogadas. Além disso, houve erros técnicos, como na final, onde Griezmann dobra os joelhos para cavar uma falta, que origina o gol de abertura do placar contra a Croácia. E apesar de todas as discussões, Neymar apanhou bastante. Terminou a Copa nas quartas sendo o que mais sofreu faltas. Mas aí a fama o atrapalhou também.

5) Choradeira brasileira - não dá mais para aguentar é o desfile verborrágico de pessoas querendo que o Brasil se estrepe na Copa por causa da situação do país. Os mesmos que há quatro anos elogiavam a Alemanha e sua estrutura a viram fracassar de forma retumbante agora. Os franceses recuperaram-se de atentados que tiram a vida de dezenas de pessoas, torceram, invadiram as ruas para celebrar. Se o Brasil ganhasse a Copa, qual o problema de fazer isso? Tem muita gente se achando filosofa, mas com o cérebro do tamanho de um caroço de pitanga, achando que o país tem que se dar mal dentro de campo, que os jogadores não sentem o clima do Brasil, etc. Tá na hora de o Brasil crescer no sentido de nação. E de entender que futebol e carnaval são, foram e vão ser parte da nossa cultura. Quem não gostar, que coloque açúcar ou adoçante e aguente, porque assim o será. 

6) Neymar - a impressão é que se o melhor jogador brasileiro focasse mais no objetivo de levantar o caneco, o Brasil jogaria mais e melhor. Essa história de "menino Ney" já passou. Neymar é um homem, adulto, no auge da forma aos 26 anos. É um jogador capaz de desequilibrar, mas é mal assessorado, seus amigos parecem incapazes de dar ao atleta um bom conselho e ele precisa amadurecer: se cair demais, será ridicularizado. Assim como o foi pelo próprio presidente da FIFA, Gianni Infantino - o que, cá pra nós, é uma vergonha. E não adianta o Neymar pai ficar brabo. A hora de mudar é agora.
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7) Fim to "tique-taca" - a fórmula espanhola não funciona mais. É fato. A seleção venceu apenas o Irã (e com dificuldade) na Copa. Empatou contra Portugal e Marrocos (quando merecia, neste último, ter perdido) e foi despachada pela Rússia, que jogou com o coração na ponta da chuteira. Aquele toque de bola sem conclusões a gol decepcionou os espanhóis.
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8) CR7 e Messi - está chegando ao fim o ciclo de dois dos maiores craques da história do futebol mundial. Mas que, por ironia do destino, não devem conquistar um mundial. Cristiano Ronaldo marcou três vezes contra a Espanha, uma contra o Marrocos... e sumiu. Foi uma ilusão de óptica. Bem marcado, não conseguiu sequer um chute a gol contra o Uruguai nas oitavas-de-final. E seus companheiros não o ajudaram em nada. Já Messi naufragou na nau sem comando argentina. Embora lutasse muito contra a Nigéria e contra a França, sucumbiu diante do projeto de time que a Argentina contava. No Catar, em 2022, vão estar com 36 e 34 anos respectivamente. Muito difícil.

9) Continente africano - depois de muitos anos, as seleções africanas não conseguiram sequer passar às oitavas-de-final - quem chegou mais perto foi o Senegal, desclassificado pelo número de cartões amarelos. Mas as atuações de Egito, Tunísia, Nigéria (que contra a Argentina pagou pelo excesso de covardia quando era melhor e empatou o jogo) e Marrocos foram um fracasso. 

10) Falta de saber comemorar: enquanto eu escrevia este texto, soube que mais de um milhão de franceses estavam nas ruas, comemorando o título mundial. Por outro lado, centenas de pessoas promoviam um quebra-quebra generalizado, tocando fogo em lojas, realizando saques e destruindo o patrimônio público. Ou seja: maus vencedores não existem só no Brasil. A praga é mundial. 

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