segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Papai Noel: “O mundo precisa de mais humanidade!”

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            Não é uma tarefa fácil encontrar o bom velhinho. Ocupado com suas múltiplas tarefas na Lapônia, próxima ao Pólo Norte do planeta, ele está sempre disposto a preparar a tradicional entrega de presentes na noite de Natal. O ritmo de trabalho é intenso. Mesmo com uma temperatura que se aproxima de 25 graus negativos. Afinal são quase sete bilhões de pessoas no mundo, sendo dois bilhões e meio de crianças à sua espera. E ele não pode decepcioná-los. Prepara as renas, organiza brinquedos, roupas, atende a pedidos, lê cartas.
            O problema é que Papai Noel está ficando de saco cheio. E não é de presentes. É da falta de bons sentimentos. Gente que não se importa mais com a própria família, na reunião, na confraternização. Pessoas que brigam em fila de supermercados, lembram-se dos outros apenas por interesse. Perderam na sua jornada o velho e bom espírito natalino. E isso está fazendo a tradição iniciada por São Nicolau (o ícone que deu origem a Papai Noel) perder o encanto. “Vai haver um tempo onde, além de esquecerem de Jesus Cristo, vão me transformar apenas em enfeita de residências”, diz o bom velhinho, com certa mágoa.
            Neste trabalho especial de reportagem, conversei com um dos personagens principais do Natal. Para muitos pode ser uma conversa fictícia, fruto da imaginação. Mas para os que crêem é um desabafo do personagem que ilumina a alma e a cabecinha de milhares de criança na Terra. E, confesse: um dia, por mais distante que seja, você também acreditou no Papai Noel não é mesmo? E ele existe. Ainda.
                Ah, um detalhe interessante: realizei esta entrevista em 2011 para um especial de Natal do jornal Folha do Sul. Li, reli e afirmo: o contexto é absolutamente atual. Quem quiser acompanhar vai notar isso.

Pergunta – Como é, atualmente,  ser Papai Noel?
Papai Noel  - Meu filho, é complicado. Por um lado é uma satisfação que já vem há séculos. A esperança das crianças em ganhar um presentinho. A fé depositada nelas pela história de Jesus Cristo. Sabe aquela sensação de “me comportei o ano inteiro direitinho, fui um bom aluno, ajudei os outros e agora vou ser recompensado”? Isso ainda existe. De outra forma o mundo está piorando. São guerras, discussões, preocupações demais. As pessoas ficam mais estressadas neste período do ano. Mas como? Não é para ficarmos em família, brindarmos as boas realizações do ano que se encerra, iluminarmos nossos corações com a história do nascimento do Menino Jesus? Meu Deus... olho para tudo isso e fico muito preocupado. Creio que em pouco tempo, se a humanidade continuar assim, o Papai Noel não será mais do que um enfeite na porta de uma casa, em uma árvore ou até em um presépio. E olha que não sou vaca de presépio (risos).

Pergunta – E onde está o erro?
Papai Noel – Na ganância. Na ânsia em depender do tempo para tudo. Os presentes de Natal, por exemplo. Eles devem ser aspectos de uma lembrança. Simbolizam todo o trabalho que os Reis Magos tiveram para ir ao encontro de Jesus Cristo, celebrar o nascimento daquele bebê vindo ao mundo para trazer uma mensagem de amor e solidariedade. Os Reis Magos foram os primeiros representantes do tão falado “Espírito de Natal”. Só que hoje não é assim. Todo mundo só quer saber de vender, vender, vender. Entendo perfeitamente o lado comercial. Ninguém quer fazer festa e ter a casa feia, desarrumada. O Papai Noel sempre dá um jeito de entregar seus presentes às crianças, mas os adultos já não dão mais atenção a ele. Por isso ele não os visita. O problema é que as crianças já não estão dando bola ao Papai Noel. E o que eu vou fazer aqui, neste frio, se não for pela intenção de integrar uma série de bons sentimentos pelo meu trabalho? Não é só dar o presente. É explicar o sentido da data. E os pais são até certo ponto irresponsáveis por isso?

Pergunta – Mas não são os pais que propagam a idéia do Papai Noel? Não são eles que incentivam a idéia de o senhor passar com suas renas na noite de Natal e entregar os presentes?
Papai Noel – Aí é que está. Quando os pais de hoje eram crianças, eles acreditavam piamente na figura do Papai Noel. Esperavam passar da meia-noite para me ver passar. Ficavam perguntando aos pais: “será porque não temos chaminé que o Papai Noel não vem?”. Até que, vencidos pelo cansaço, caiam no mais profundo sono. E no outro dia acordavam e lá estava, embaixo da árvore natalina, o seu presentinho. Havia encantamento. As pessoas tinham mais tempo, mais ânimo para confraternizar. E, ao contrário do que dizem, não eram só os mais ricos e os de classe média com toda essa disposição. Sempre havia um jeito de entregar uma lembrancinha ao mais pobre, ao mais carente. As pessoas tinham o espírito mais leve. Se é que não é uma redundância, fazia bem às pessoas fazer o bem. Hoje muita gente só faz o bem visando aparecer, visando a um lucro ou a um status melhor. Isso me decepciona.

Pergunta – O senhor teme, realmente, virar apenas uma figura decorativa?
Papai Noel – Claro. As crianças hoje não esperam mais a vinda do bom velhinho. Passa da meia-noite e elas impõem aos pais: quero meu presente! Não há mais magia. Há uma obrigação. Eu sempre trabalhei da forma mais humana possível. Pensa que é fácil atender ao mundo inteiro? Menos mal que existem fusos horários (risos). Minha equipe organiza tudo, prepara da melhor forma possível. Às vezes, é verdade, alguém acaba esquecido. Só que o Papai Noel está ficando velho e ninguém se dá conta disso. A tradição é passada de geração em geração, desde São Nicolau. E o “entregador de presentes” não é o mesmo. Sempre há mudança. O ideal é que permanecia o mesmo. Sem o estímulo às crianças qual será o meu futuro? Nenhum. Serei um mero representante comercial, um enfeite.

Pergunta – E qual o presente que o senhor gostaria de receber no Natal?
Papai Noel – Carinho, afeto e atenção. Não é demagogia meu filho. São essas as vitaminas que me fortalecem a alma. Existe muita gente ao redor do planeta cujo presente seria mais saúde. Para outros mas alegria. Grande parcela da população mundial teve um ano difícil. Só que as reações é que as tornam mais fortes ou mais fracas. Você sempre tem a opção de escolha: ficar bem ou mal humorado, reagir ou desistir. Hoje todos estão optando pelo mais cômodo. E não falo apenas no Brasil, na América do Sul, ou em um local específico. Isso é em todo lugar. Queria um mundo mais justo, mais igualitário. Onde não houvesse tantas brigas. Onde a paz e a harmonia fossem as condições essenciais para a sobrevivência humana. Infelizmente a sociedade evolui, nesse  ponto, para pior.

Pergunta – Mas então por que o senhor não desistiu até agora?
Papai Noel – Porque ainda existem pessoas com o coração renovado nesta época, meu filho. A luta não está perdida para o Papai Noel. Há milhares de pessoas buscando o amor ao próximo, despertando o espírito solidário, fazendo o bem. Enquanto houver esse sentimento eu estarei aqui. Muitos pais ainda conservam a idéia de montar presépios, estimular que as crianças estudem sobre quem foi Jesus Cristo. Contam a história do menino. E o Papai Noel também é preservado. Afinal, por mais que discordem das histórias a meu respeito, a teoria de que quem faz o bem é recompensado é um estímulo. Não é antipedagógico. Se a criança for comportada vai receber uma retribuição por isso. Se você cumpre a sua jornada, não recebe o salário no fim do mês? Se você dá amor ao marido ou esposa não é justo receber o mesmo em troca? Com as crianças é assim. Desta forma que se constitui a personalidade delas no futuro. E a tradição seciular do Papai Noel será mantida.

Pergunta – E qual a mensagem do Papai Noel para este Natal?

Papai Noel – Amem mais. Não tenham vergonha de demonstrar. Sejam corretos com todos, mas principalmente consigo mesmos. Dêem valor a seus filhos. Vocês não percebem, mas eles crescem e dentro de 20 anos, no máximo, eles vão embora viver a vida deles. Aprendam a conviver mais. Não há computador no planeta capaz de gerar a emoção transmitida por um ser humano em um abraço, um cumprimento, um beijo. E sejam mais tolerantes. Todos nós fazemos besteiras ao longo da vida. E a nossa maior besteira é não aceitar as besteiras dos outros. E lembrem-se: aonde houver o sorriso de uma criança no Natal, o Papai Noel estará ali. 

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