sábado, 7 de janeiro de 2017

Políticos, aprendam com o Neto



      O mundo se acostumou com o chavão; "Uma imagem vale mais que mil palavras". Eu demorei a encontrar uma cena tão simbólica quanto a que ilustra este texto. Na foto, retirada de uma reportagem do canal ESPN, está o zagueiro Neto, um dos poucos sobreviventes da tragédia com a equipe da Chapecoense no dia 28 de novembro do ano passado. Mas isso não é tudo. Prestem atenção ao redor: os atletas da Chape, no dia da reapresentação. Olhos vidrados. Semblante franzido. Não era apenas uma lamentação, uma prece, ou simplesmente um ato solidário.
      A equipe estava prestando atenção nas palavras de Neto.
      Não vou entrar nos detalhes da matéria, apenas faço um resumo: o zagueiro quis participar da reapresentação. É uma etapa do tratamento psicológico: saber encarar a vida. Não desistir. Não deixar a depressão vencer, desafiar o medo, o receio. Para Neto era imprescindível, dentro dos limites médicos impostos (até porque ainda tem dificuldades para andar e falar) estar ali. O atleta sabe que ainda este ano pode voltar aos gramados. E está lutando para isso.
      Interessante é o grupo que está em volta do zagueiro na foto. Jovens, talvez alguns da categoria de base, outros que são novatos. E apesar da dificuldade, Neto estava ali para liderar um grupo que precisa se reinventar, que precisa viver. Que tem a alma destroçada, a autoestima arranhada, o orgulho ferido. O zagueiro estava ali, sentindo-se parte da equipe. Como se dissesse, em "balões figurados" nesta imagem: "Olha pessoal, eu sobrevivi, luto a cada dia para estar vivo e vou voltar a campo para defender meu grupo. Preciso que vocês façam isso agora, por vocês, por mim, pela cidade, pela possibilidade de vocês estarem vivos e participando de uma história que vai ser reconstruída". 
      A cara dos demais atletas num misto de respeito e atenção impressiona. Eles sabem da história da Neto, da luta para sobreviver, da hipotermia no meio da montanha, da possibilidade milagrosa de um resgate quando as buscas estavam terminando. E Neto não desistiu. Assim como Alan Ruschel e Follmann, que integravam a equipe catarinense. 
      E onde quero chegar com o exemplo acima? Por que comparar com a política partidária?
      Simplesmente porque não vejo a classe de pessoas responsáveis pelos destinos de municípios, estados e do país ter o brio, a força, a honra de Neto. De não desistir. Pelo contrário. Vejo uma mesquinharia que passa da direita para a esquerda, não necessariamente nesta mesma ordem, achando que sabem tudo. Aliás, se achismo fosse ciência, haveria PHDs formados em redes sociais. Como escrevem bobagens... aliás, se fosse bobagens estaria bom. Assisto todos os dias a um festival de estupidez e só posso rir. Ao invés de a classe política se concentrar em fazer, em agir, ficam discutindo "quem rouba menos", "quem destruiu mais", "quem tem filiados mais corruptos"  como se fossem donos da verdade, dogmas incontestáveis. er
      O problema é a falta de bom senso que permeia esta pobre nação. Temos a habilidade surrealista de achar defeitos, mas encontrar soluções que é bom, pouca coisa. Aliás, deve ser por isso que o Google adora tanto o Brasil; aqui eles encontram apertadores de botões, jogadores com destreza no celular, enquanto as mentes mais capazes desenvolvem jogos, softwares e aplicativos para tentar facilitar a vida das pessoas. Os pseudo sabe-tudo vão começar a perder espaço porque redes sociais como Facebook e Twitter estão vendo o monstrengo social que criaram e começou a cair consideravelmente o número de usuários. Já cansei de ver, ouvir e ler as bravatas de quem está ou não no poder e quando trocam de lado fazerem a mesma coisa, como se fossem um festival de Harry Potters em condições de fazer mudança. Daí alcançam o topo e... surpresa! Nada muda.
      O Brasil é uma fábrica de corruptos por uma série de motivos, é um festival de gente escorada no lombo dos outros, de seres preocupados em ter "um trampo" ao invés de trabalho, em se esforçar para virar cargos de comissão ao invés de se capacitar para enfrentar o mercado de trabalho, em pedir "apoio" e "ajuda" para subir na vida, muitas vezes precisando pagar favores com o próprio corpo ou próprio caráter. Isso se reflete nas redes sociais, onde há um festival de mistureba de gente se metendo em assunto de postagens dos outros para se referir a "B" ou "C", e quem responde dentro da normalidade passa por retardado porque não entende (e nem vai entender) de um assunto que não tem nada a ver com o ponto principal da postagem. 
      A imagem de Neto me faz ver alguém com o exemplo de um pai ou uma mãe, que se esforça a fuzel (essa expressão é antiga) para dar conforto, educação e qualidade de vida aos filhos, que ajeita as coisas dentro do lar, sabe atender aos amigos e ainda consegue se organizar a ponto de não transformar a casa em ambiente de trabalho. E é isso que falta à classe política: parar de frescura, de achar que sabe mais, de que tudo é problema dos outros, e passar a agir. O Brasil ainda não consegue ser uma democracia plena, exercida com êxito. A maior prova é da corrupção governamental, que tem defensores árduos (desde que sejam de suas porcas ideologias) até aqueles que desejam pregar a ruptura com o sistema de forma violenta, ditatorial e, principalmente, estúpida. A coisa é tão braba ultimamente que nem quando alguma ideia é levada a sério consegue ser defendida a pleno pelos próprios associados, filiados, ou qualquer coisa afim. Basta ter uma discordância e lá vem a lição de moral-de-cueca pronto para jogar querosene na fogueira.
     Políticos, aprendam com o Neto. A imagem dele ensina muito mais que discursos vazios.

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